sábado, 21 de novembro de 2009

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 26





O ENCALHE DO VAPOR NORUEGUÊS “HAV” DENTRO DO PORTO DE LEIXÕES



A 22.12.1929 pairava ao largo da costa o vapor Norueguês HAV, quando cerca das 02h00 demandou o porto de Leixões, procedente de Cardiff com um carregamento de carvão, consignado aos agentes Lobo & Freitas & Cia., Lda. Este vapor, que era esperado no rio Douro, irreflectidamente cruzou os molhes sem que aguardasse nem alertasse, através da sua sirene, a necessidade da presença de piloto da barra, e prosseguindo pelo porto dentro foi encalhar a Sul da praia do Pescado, largando nessa ocasião os dois ferros. Parece ter entrado tão despercebidamente, que apenas ao romper do dia o vigia dos pilotos, no seu posto do torreão do castelo de Leça, deu pelo acidente, apressando-se a avisar o piloto de escala, o sota-piloto-mor António Joaquim de Matos e a capitania.

Logo pela manhã, a autoridade marítima deslocou-se a bordo e interrogando o capitão, que se encontrava em estado de embriaguês, lamentavelmente não foi capaz de explicar o motivo do navio ter ido parar àquele lugar. O HAV perdeu a porta do leme, tendo permanecido no porto de Leixões por cerca de mês e meio. Desse incidente resultou que o vigia dos pilotos tivesse sido suspenso das funções, por falta de atenção ao serviço.

HAV, 75m/1.414tb; 07.1917 entregue pelo estaleiro The Shangai Dock & Eng. Co.,Ltd, Xangai, como VALUTA â D/S A/S Valuta, (Hans Madsen) Stavanger; 12.06.1923 HAV, A/S Hav (Helmer Staubo & Co), Kristiania; 05.02.1930 naufragou ao largo de Santa Cruz, perto do Cabo da Roca, quando em lastro seguia a reboque de Leixões para Lisboa, a fim de ser reparado.

Fonte: José Fernandes Amaro Júnior; Norsk Skipforlis, Scott RM- The Caltex Book of Flags and Funnels e Imprensa diária.

(continua)

Rui Amaro

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 25

MOVIMENTO MARITIMO NO RIO DOURO E A DERRADEIRA LARGADA DO VAPOR INGLÊS PENGAN



Vapor Alemão APOLLO, DG Neptune, Bremen, 1927/1945; 90m/2,297tb; 1945 EMPIRE TAFT; 1947 ALHAMA, 1954 desnantelado em Faslane.Em 1947 como ALHAMA veio oa Douro carregar cortiça para Inglaterra, ostentando as cores da Mossgiel Steamship Co. Ltd, , Glasgow.


A 12.12.1929, saíram a barra as seguintes embarcações: vapores alemães STAHLECK, piloto Joel da Cunha Monteiro; LEANDER, piloto Francisco Piedade; TANGER, piloto José Fernandes Amaro Júnior; holandês NEREUS, piloto Júlio Pinto de Carvalho; norueguês OTTO SINDING, piloto Pedro Reis da Luz; inglês DARINO, piloto António Gonçalves dos Reis e o palhabote inglês da praça de S. João da Terra Nova NELLY F. WALTERS, piloto João Piedade e entraram os vapores alemães APOLLO, piloto Hermínio Gonçalves dos Reis; ATLAS, piloto Carlos de Sousa Lopes; ingleses CRESSADO, piloto José Fernandes Tato; PROCRIS, piloto João António da Fonseca e o palhabote português MAREANTE, piloto Manuel de Oliveira Alegre. Um pequeno incidente sucedeu ao DARINO, que quando descia o rio de rumo à barra, ao passar perto do cais das Pedras, foi de guinada sobre o APOLLO, ali fundeado, quase o abalroando. Regressado ao canal seguiu para a barra sem mais novidade.

A 13.12.1929, pelas 12h40, o piloto José Fernandes Amaro Júnior deu saída ao vapor inglês PENGAN, o qual após o seu desembarque para a lancha P4, fez-se de rumo ao porto carbonífero de Cardiff, levando um carregamento completo de toros de pinho, destinado a escorar as minas de carvão. Uma grande parte daquele carregamento ia estivada no convés, o que usualmente se designa de “barda”. Alguns dias passados, aquele vapor deixou de comunicar com os seus armadores, pelo que não tendo sido encontrados vestígios do mesmo e da sua tripulação até 11.01.1930, apesar das buscas, as autoridades marítimas britânicas consideraram-no como perda total.

Fonte: José Fernandes Amaro Júnior e Imprensa diária.

Foto: Martin Linderborn em Hundert Jahre “NEPTUN”

(continua)

Rui Amaro

domingo, 15 de novembro de 2009

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 24

O PAQUETE “NYASSA” E A SUA PRIMEIRA ESCALA NO PORTO DE LEIXÕES



Paquete NYASSA / postal do armador /.



A 03.12.1929, manhã cedo, entrou no porto de Leixões ao sinal da lancha de pilotos, pela primeira vez, debaixo de grande agitação marítima, o paquete Português NYASSA da Companhia Nacional de Navegação, Lisboa, que procedia do porto de Lisboa e veio ao Norte carregar carga diversa e embarcar 460 passageiros para os portos do Rio de Janeiro, Santos, Montevideu e Buenos Aires. O piloto Alfredo Pereira Franco subiu a bordo entre molhes e orientou as manobras, ancorando o paquete a dois ferros na covada do molhe Sul. A saída, ao fim do dia, foi conduzida pelo piloto Júlio Pinto de Almeida, que não podendo desembarcar devido à maresia, seguiu a bordo para o porto de Lisboa, tendo regressado a Leça da Palmeira por caminho-de-ferro.

O NYASSA, 145,75m/8.980tb, 14 nós, 800 passageiros e 166 tripulantes, foi construído em 1906 pelo estaleiro J. C. Tecklenburg A.G., Geestmunde, para a Nordeutscher Lloyd Bremen, Bremen, com o nome de BULOW, tendo sido colocado na linha do Extremo Oriente, Austrália e Nova Iorque. A 23.07.1914 saiu de Bremen para o Extremo Oriente, tendo sido surpreendido pelo inicio da guerra de 1914/18, quando navegava em pleno Atlântico Norte, pelo que se refugiou no porto de Lisboa, então porto neutro, como o fizeram um grande número de unidades mercantes Alemãs. Requisitado e apossado pelo governo de Portugal no ano de 1916, a fim de fazer face à falta de transportes marítimos devido à situação de guerra, foi rebaptizado de TRÁZ-OS-MONTES, passando a fazer parte da frota da então formada empresa Transportes Marítimos do Estado (TME) e por falta de tripulações para equipar o enorme número de vapores apresados foi gerido pelos armador Inglês Furness, Withy & Co. Ltd., até ao final da guerra. Além disso, fez algumas viagens ao porto de Nova Iorque, fretado à Cunard Line, tendo também servido como transporte militar durante o conflito.



Paquete BULOW / postal do armador /.



Em 1922 ficou inactivo no rio Tejo até ao ano de 1924, altura em que foi adquirido pela Companhia Nacional de Navegação, que o colocou na linha de Moçambique e alguns anos mais tarde na linha da América do Sul com viagens alternadas aos territórios Portugueses de África.

Em 24.04.1931, armado em cruzador auxiliar, o NYASSA larga do Tejo, juntamente com outras unidades navais e mercantes, a fim de desembarcar tropas na Madeira para combater o levantamento militar, que ficou conhecido pela Revolução da Madeira, e que foi derrotado pelas forças governamentais. Em Novembro de 1940 fez várias viagens entre Lisboa e os E.U.A, assim como aos portos do Brasil e Rio da Prata, transportando sobretudo refugiados de guerra e por razões de segurança acabou por amarrar no rio Tejo.

A 11.02.1942, pelas 16h30, largava do porto de Leixões com carga diversa e passageiros, e devido à forte maresia que se fazia sentir, devido à aproximação de ciclone, o piloto da barra Francisco Luís Gonçalves seguiu a bordo para o Rio de Janeiro e Santos, depois de goradas todas as diligencias do rebocador TRITÃO, da APDL, para o tentar recolher, tendo regressado a Portugal no próprio NYASSA. Na chegada ao Rio de Janeiro, foi manchete da imprensa Brasileira, tendo sido muito acarinhado pela colónia Portuguesa local, particularmente pelo seu amigo e conterrâneo Júlio Baptista, imigrante naquela cidade e tio do autor do Blogue.

Em 1946, o NYASSA regressa à rota de Moçambique e em 1949, depois de ter realizado uma viagem em Julho de 1949, de Lisboa a Macau com escala em vários portos intermediários, fundeou no porto de Lisboa, após a entrada ao serviço dos novos paquetes do seu armador. Em 07.11.1951 chegava a reboque ao Blyth, Escócia, para desmantelamento pelos sucateiros Hughes Bolkow.




Paquete TRÁZ-OS-MONTES / postal do armador /.



Fevereiro de 1913, ainda como BULOW, sofreu um encalhe na costa de Blacknor Point, Portland, Dorset, tendo sido resgatado, após ter aliviado alguma carga, por rebocadores locais.

http://www.shipsnostalgia.com/gallery/showphoto.php?photo=60717

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Nordeutscher Lloyd, Bremen; Skaphandrus; Ships Nostalgia; Miramar Ship Index; Wrecks.

(Continua)

Rui Amaro