sexta-feira, 18 de junho de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 74

O VAPOR ITALIANO “EUDORA” SOFRE UM ICIDENTE QUANDO DE SAIDA DEMANDAVA A BARRA

A 19/05/1931, pelas 17h30, o vapor Italiano EUDORA vindo rio abaixo, ao passar no lugar dos Arribadouros, a amarra duma das bóias prendeu-se no seu hélice, acabando por rebentar. De imediato o piloto José Jeremias dos Santos mandou lançar o ferro de estibordo, cuja amarra partiu. Não perdendo tempo mandou largar o ferro de bombordo e então o vapor fez-se ao ferro, virando proa a Leste.

Suspendendo, foi desandar de proa à barra ao lugar do Bico de Sobreiras, auxiliado pelo rebocador MARS 2º, que se cruzava com aquele vapor na ocasião do incidente e às 18h15 passava a barra, contudo para evitar demoras, não foi desembarcar o piloto da barra ao largo do porto de Leixões, levando-o para o porto de Lisboa.

A 03/07/1931, pelas 08h00, a draga de sucção Portuguesa PORTO principiou a dragar as areias junto da restinga do Cabedelo por imposição da Corporação dos Pilotos da Barra, visto aquele local se encontrar bastante assoreado e como tal dificultando a passagem de embarcações de grande calado.

EUDORA – 93m/2.263tb/9,5nós; 24/08/1895 entregue por Blohm Voss, Steinwerder, como KURT WOERMANN `Woermann Linie, Hamburgo; 1919 KURT WOERMANN, entregue ao Governo Francês como reparação de guerra; 1924 LAGOS, Woermann Linie, Hamburgo; 1927 EUDORA, Navigazione Neptunia, Génova; 1937 SIDAMO, Servizio Italo Portoghese SA. Di Navigazione, Génova; 27/03/1943 torpedeado e afundado pelo submarino HMS SAHIB na barra de Milazzo, Sicilia.

PORTO – 60m/825tb. Construída na Alemanha em 1913 sob encomenda da Junta Autónoma das Obras da Cidade/Associação Comercial do Porto, que então e por muitos anos foi a Autoridade Portuária dos Portos do Douro e Leixões, sendo depois substituída pela actual APDL/Porto de Leixões. A finalidade da compra dessa draga foi a de servir, exclusivamente os portos do Douro e Leixões, e que fora adquirida por subscrição da população portuense, negociantes, consignatários de navios, etc. Anos mais tarde, sem mais nem menos, levaram-na do Douro/Leixões para o porto de Lisboa, tendo sido integrada na frota dos SH – Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos, contra a vontade da cidade do Porto, resultando daí que a barra do Douro e o porto de Leixões ficassem ao abandono, sobretudo no caso de dragagens urgentes. Aquela draga, com a extinção daquela Direcção Geral em 1978, foi incorporada na Dragapor – Dragagens de Portugal SA., tomando o nome de Procyon e em 25/07/1981 foi posta a leilão em Viana do Castelo, possivelmente para sucata.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index.

(continua)

Rui Amaro

O VAPOR DINAMARQUÊS “AVANCE I” ENCALHA NUM BANCO DE AREIA DIANTE DO ESTALEIRO DO OURO

O AVANCE I no porto de Saint Vaast, França, durante a WWII /(C) Cortesia Danish Maritime Museum, Elsinore /.


A 08/02/1930, pelas 09h00, quando o vapor Dinamarquês AVANCE I, piloto Francisco Piedade, que vinha de saída, diante do estaleiro do Ouro, ao desviar-se dos vapores que vinham de entrada, topou num banco de areia, acabando por ficar em seco. De imediato seguiu para o local a lancha P5 levando a reboque a catraia do piloto-mor, com vários pilotos para colaborarem nas operações de desencalhe, infelizmente apesar dos esforços desenvolvidos não foi possível safa-lo, porque entretanto a maré começou a ir de vazante. Nova tentativa foi realizada na maré da noite não sendo bem sucedida. Somente pelas 12h00 do dia 10 é que o AVANCE I se conseguiu safar pelos seus próprios meios, tendo seguido para o lugar do Cavaco, a fim de aguardar melhor maré para sair a barra em segurança.

AVANCE I – 78m / 1300tb/ 9 nós; 12/1912 entregue por Kjobenhavns Flydedok & Skibsvaerf, Copenhaga, como AVANCE a T. Rassmussen’s Sons, Copenhaga; 1927 AVANCE I, J. Henriksen, Risor; bandeira Dinamarquesa; 1949 SADIKZADENAZIM, Sadikzade Nazim, Turquia; 29/04/1954 naufragou em viagem de Zonguldak para Istambul sem vestígios.

Fonte: José Fernandes Amaro Júnior;.

(continua)

Rui Amaro

quinta-feira, 17 de junho de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 72


INCIDENTE NA MANOBRA DE LARGADA DO VAPOR INGLÊS “ESTRELLANO”



ESTRELLANO / autor desconhecido - Photoship Co. UK /



Relato textual do piloto José Fernandes Amaro Júnior, respeitante ao seu serviço de largada do vapor Inglês ESTRELLANO do rio Douro.

«A 06.05.1931, pelas 16h00, fui dar saída ao vapor inglês ESTRELLANO, 76m/ 1.963tb, que se encontrava amarrado no lugar dos Vanzelleres, por terra do vapor da mesma nacionalidade PROCRIS, cuja manobra de arriar cabos estava a cargo do piloto Manuel Pinto dos Reis, no sentido do meu vapor conseguir passar para o meio do rio, a fim de desandar proa a jusante.

Às 17h20 principiei a largar os cabos de terra e o PROCRIS tratou de virar os ferros e arriar os cabos à proa e à popa, para que o ESTRELLANO pudesse passar. Entretanto, mandei a lancha dos pilotos cambar os cabos da proa e depois, que o PROCRIS se desviou para estibordo, tratei de retirar os ferros, que estavam sob o fundo dele. Quando suspendia os ferros o ESTRELLANO foi colidir, ligeiramente com o PROCRIS, devido ao jeito de águas e força do vento. No entanto, ao mandar largar de terra o cabo de arame da proa, ordenei marcha avante devagar e um pouco de leme a bombordo, logo o vapor ganhou seguimento pelo que mandei parar a máquina e meter leme a meio, contudo naquele instante o varandim da ponte de comando do PROCRIS pegou numa folha de madeira da ponte de comando do meu vapor, partindo-se os balaústres.

Depois do ESTRELLANO ter conseguido livrar-se do PROCRIS, conduzi-o ao meio do rio e de marcha à ré safou-se e suspendeu-se o ancorote dos pilotos à popa e, finalmente desandou-se o vapor com o auxilio do rebocador fluvial LEÃO, tendo então, feito rumo à barra do Douro, onde desembarquei para a lancha de pilotar P4 às 19h20. Chegado à corporação fui dar conhecimento da ocorrência ao piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão, tendo procedimento idêntico sido feito pelo meu colega de serviço ao PROCRIS.

Passados alguns dias, eu e o meu colega Manuel Pinto dos Reis fomos chamados ao capitão do porto do Douro, onde ambos acompanhados pelo piloto-mor, nos apresentamos no dia 11, ao oficial adjunto da capitania, Cdte Ernesto Garcez de Lencastre, que se limitou a registar as nossas declarações sobre o incidente relativo aos dois vapores».

ESTRELLANO – 77m/1.963tb, construído no ano de 1920 pelos estaleiros Hall, Russell & Co., Aberdeen, para os armadores Ellerman & Papayanni, Ltd., Liverpool, que o colocaram na carreira de Liverpool ou Londres para Portugal, que escalava com regularidade, juntamente com os seus parceiros DARINO, PALMELLA, CRESSADO, OPORTO e LISBON, todos eles afundados durante a segunda guerra mundial. Aqueles seis vapores, ainda hoje são recordados nas zonas ribeirinhas do Porto e V. N. de Gaia.

O vapor ESTRELLANO inserido no comboio HG53, foi torpedeado e afundado pelo submarino Alemão U37, quando em viagem do porto de Leixões rumava ao porto de Liverpool, transportando cerca de 2.000 toneladas de carga diversa, incluindo 1.110 toneladas de conservas de peixe, depois de ter ido ao encontro daquele comboio,

Às 04h30 de 09.02.1941, o U 37, KapitanLeutnant Asmus Nicolai Clausen, lançou dois torpedos sobre dois vapores do referido comboio, a cerca de 160 milhas a Sudoeste do Cabo de S. Vicente e afundou os vapores COURLAND e ESTRELLANO. Pelas 05h00 um terceiro torpedo foi lançado, contudo falhou o alvo, que era um vapor que seguia na esteira.

5 tripulantes do ESTRELLANO, Captain Fred Bird, pereceram. O comandante, 20 tripulantes e um artilheiro foram resgatados pelo aviso HMS DEPTFORD (L53) e desembarcados em Liverpool. Um tripulante faleceu, a bordo do aviso, devido a ferimentos sofridos, tendo sido sepultado no mar.

PROCRIS – 70m/1.320tb/10 nós; 27/11/1924 entregue pelo estaleiro A. J. Inglis, Ltd., Glasgow, ao armador J. P. Hutchinson, Glasgow; 1931 Moss Hutchinson Lines, Ltd, Glasgow; 1946 regressou ao tráfego Glasgow/Portugal; 13/09/1950 vendido a sucateiros de Glasgow para demolição. Navios gémeos: FENDRIS e SARDIS.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index.

(continua)

Rui Amaro

terça-feira, 15 de junho de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 71


OS DOIS PRIMEIROS VAPORES DE BANDEIRA REPUBLICANA ESPANHOLA NO RIO DOURO E NO PORTO DE LEIXÕES





A 05/05/1931, pelas 08h30, demandou a barra do Douro o vapor TORRAS Y BAGES, pertencente à Compañia Transmediterranea, de Barcelona, arvorando a bandeira republicana Espanhola. Aquele vapor, conduzido pelo piloto João Pinto de Carvalho, foi amarrar no lugar dos Vanzelleres, sendo seus agentes a firma Leonard H. Wright & Cia Lda e no dia seguinte entrou no porto de Leixões o vapor CABO LA PLATA, propriedade da Ybarra & Cia, de Cádis, arvorando também o pavilhão republicano de Espanha, sendo conduzido pelo piloto Manuel Pinto da Costa, que o ancorou ao Sul a dois ferros. Aquele vapor veio consignado ao agente Kendall, Pinto Basto & Cia Lda e também nesse mesmo dia, pelas 09h00, demandou a barra, pela primeira vez, o vapor Alemão CEUTA da companhia OPDR, Hamburgo, gémeo do RABAT, de cujo porto procedia, sendo seu agente na cidade do Porto a firma Burmester & Cia., Lda. O piloto Delfim Duarte conduziu a sua entrada e foi dar fundo no lugar do Quadro da Alfandega.

TORRAS Y BAGES – 74,95m/1.344tb/9 nós; 01/1902 entregue por Clyde Shipbuilding Co., Ltd, Port Glasgow, como VELAZQUEZ à Naviera La Bética (gestores Mac Andrews Co.), Sevilla; 1917 VELAZQUEZ, Compañia Maritima de Barcelona, Barcelona; 1917 TORRAS Y BAGES, Compañia Trasmediterranea, Barcelona; Barcelona; 1936 TORRAS Y BAGES, foi rebocado pelo vapor CIUDADELA desde Mahon a Barcelona para ser reparado e colocado em serviço, por conta do governo republicano. Estando próximo a ocupação de Barcelona pelas tropas Nacionalistas, foi levado para Marselha, de onde regressou a Barcelona rebocado pelo vapor CASTILLO TORDESILLAS, uma vez terminado o conflito fratricida Espanhol; 1952 TORRAS Y BAGES, Islena Marítima,??; 1958 TORRAS Y BAGES, Naviera Morey SA., Barcelona; 1966 desmantelado para sucata algures em Espanha.


http://www.andimar.spanishspotters.com/ver_foto.php?fid=3663


CABO LA PLATA – 85m/2002tb/ 9nós; 11/1908 entregue por Greenock & Grangemouth Dockyard Co., Greenock, à Ybarra Y Cia, Cádis; 1937 CABO LA PLATA, requisitado pelo governo nacionalista Espanhol, que lhe alterou o nome para PLAUSTRA; 1939 terminada a guerra civil de Espanha foi devolvido à Ybarra Y Cia. ; 06/10/1952 Perdeu-se por encalhe devido ao nevoeiro no Cabo Home, à saída da ria de Vigo.

CEUTA – Detalhes serão postados num próximo episódio mais desenvolvido.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index; La Compañia Tramediterranea a través de sus buques; Andimar.Es.

(continua)

Rui Amaro