quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 131O VAPOR DE PESCA "CABO DE S. VICENTE"

O VAPOR DE PESCA "CABO DE S. VICENTE", APÓS TER PASSADO A BARRA ENCALHA DIANTE DA CAPELINHA DO NOSSO SENHOR DOS NAVEGANTES



A 10/11/1933, pelas 07h45, o vapor de pesca por arrasto Português CABO DE S. VICENTE, piloto Bento da Costa, após ter demandado a barra do Douro e quando passava diante da capelinha do Nosso Senhor dos Navegantes, devido ao nevoeiro, que se fazia sentir, acabou por encalhar num banco de areia localizado a sul do canal de navegação. No entanto, algum tempo depois, conseguiu safar-se pelos seus próprios meios e seguiu para montante até dar fundo e amarrar à lingueta do Bicalho, a fim de efectuar a descarga do pescado.

CABO DE S. VICENTE – ex Português CABO CARVOEIRO, ex Inglês DARRACQ, ex Inglês H. A. L. RUSSEL – Vapor de pesca do arrasto – 1910 – 44m/269tb – Sociedade Comercial Maritima, Lisboa.

Quando se encontrava no pesqueiro, em plena costa de Portugal, ao Noroeste do cabo da Roca, pelas 18h30 de 10/03/1942, nas coordenadas 38,56N e 09.57W avistou-se um quadrimotor que se dirigiu ao vapor de pesca e quando estava a 50 metros passou em voo rasante e largou dois torpedos pequenos, acertaram no costado de bombordo, provocando enorme explosão. A visibilidade era clara e o CABO DE S. VICENTE exibia as marcas convencionadas da sua nacionalidade bem visíveis, o que não sucedia com o avião atacante, que não mostrava a sua identidade, apenas se testemunhou, que era um quadrimotor e estava totalmente pintado de cinzento claro.

Aquela aeronave não se contentou em lançar os torpedos mas ao passar sobre o vapor, descarregou algumas rajadas de metralhadora, que por sorte não feriram quem quer que fosse. Dado que o vapor se estava a afundar, foi arriada a baleeira, que felizmente não fora atingida pela metralha, por isso a tripulação pode salvar-se. O último a saltar foi o capitão José Ethelredo Morais, que através da fonia tentou um pedido de S.O.S., que pelo posto ter ficado avariado, não foi escutado. Rumaram então, à força de remos, para a Ericeira, enquanto se verificava afundamento do navio. Na madrugada de 11 foram recolhidos pelo vapor de pesca AÇOR, que os levou para Lisboa.

Não se compreende a razão porque um avião, que não mostrava as marcas da sua nacionalidade, atacou e afundou uma embarcação de nacionalidade neutral, em seu mar territorial!
O CABO DE S. VICENTE foi lançado à água em 09.1910, estaleiro Cochrane & Sons, Ltd, Selby, como DARRACQ e mais tarde adquirido por outro armador inglês, tendo recebido o nome de H.A.L.RUSSEL. Já depois da guerra de 1914/18 foi vendido a armadores Portugueses tomando o nome de CABO CARVOEIRO, porém em 1930, já estava matriculado como CABO DE S. VICENTE.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; CRONICA DOS NAVIOS DA MARINHA PORTUGUESA, (Anais do Club militar Naval), Cdt. Carlos Amorim.

Imagem: autor desconhecido.

(cotinua)

Rui Amaro

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 130



O VAPOR FRANCÊS "MARGAUX" ENCALHA QUANDO DE LARGADA DEMANDAVA A BARRA




A 09/11/1933, pelas 07h00, descia o rio Douro em direcção à barra, o vapor Francês MARGAUX, piloto Francisco Soares de Melo, contudo devido ao denso nevoeiro, que lhe surgiu pela proa, foi encalhar num baixio de areia existente no lugar da Ínsua do Ouro. Aquele piloto tentou safar o vapor de marcha à ré, tendo os seus esforços sido frustados.

Da Cantareira acorreram os pilotos da barra com algumas lanchas, que trataram de espiar ancorotes para evitar o deslocamento do vapor pela força da vazante, para local mais crítico e ficou aguardar a preia-mar da noite, a fim de se iniciar novas tentativas de desencalhe. Os trabalhos foram reiniciados às 19h00 com o auxilio do rebocador LUSITÂNIA, que pegou à proa do vapor sinistrado, puxando-o até às 19h30, conseguindo então desencalhá-lo e seguindo depois para a barra assistido pelo mesmo rebocador. Ás 20h15 desembarcou o piloto e sem mais novidade rumou ao seu porto de destino. Os trabalhos de desencalhe foram orientados pelo sota-piloto-mor António Joaquim de Matos e pelo patrão-mor da capitania, coadjuvados por alguns pilotos da barra e seu pessoal assalariado.

O vapor MARGAUX, 78m/ 1.463tb/ 12nós, que foi construído em 1912 pelo estaleiro Atelliers & Chantiers de France, Dunquerque, para o armador Worms & Cie, Nantes, encontrava-se ao serviço da Société Anonyme des Chargeurs de l’Ouest, Nantes, efectuando o tráfego entre os portos de Nantes, Porto, Lisboa e portos Marroquinos.

Na noite de 11/11/1917, em plena guerra de 1914/18, ido do porto de Boulogne-sur-Mer navegava de rumo ao porto de Southampton, porém em sentido oposto e saído daquele porto Britânico em rota para o referido porto Francês, transportando um enorme carregamento de munições, urgentemente requisitadas pelas forças expedicionárias Britânicas estacionadas em território continental, navegava o vapor Inglês BASIL, 103m/3.223tb, pertencente ao armador The Booth Steamship Co. Ltd., (Booth Line), Liverpool, foi este último abalroado pelo MARGAUX, resultando daí o seu afundamento.

http://www.bevs.org/diving/wkbasil.htm

A colisão foi tão violenta, mais parecendo um ataque de torpedo, que o BASIL submergiu em poucos minutos levando consigo treze vidas, que faziam parte da sua tripulação. A razão da colisão foi devido a ambas embarcações, afim de evitar o campo de submarinos inimigos de Owers Light, navegarem com alguma marcha em zig-zag e de faróis apagados, não se apercebendo da aproximação uma da outra. O MARGAUX, após ter recolhido os sobreviventes e com a proa bastante danificada fez rumo ao porto de Southampton. O MARGAUX, que sobreviveu às duas guerras mundiais, foi vendido em 1950 à Sté Anonyme de Chalandage et de Remorquage de l’Indochine, alterando o nome para REGULUS, perdendo-se por naufrágio em 13/06/1951 no Trident Reef, 2mn a norte da baía de Apawan, Filipinas.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior, Miramar Ship Index, Shonas Wreck - S/S BASIL, Diver Net.

(continua)

Rui Amaro

domingo, 12 de dezembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 129

O PAQUETE CORREIO INGLÊS “HIGHLAND CHIEFTAIN” EM LEIXÕES


Um paquete da Mala Real Inglesa da série HIGHLAND deixando o porto de Lisboa /Gakeria de arte de autor desconhecido - Royal Mail Linesm Ltd. /


A 31/10/1933, pelas 17h45, demandou pela primeira vez o porto de Leixões, procedente dos portos de Londres, Boulogne-sur-Mer e Vigo, o paquete Inglês HIGHLAND CHIEFTAIN” gémeo do HIGHLAND PATRIOT, e, imediatamente após as operações de desembarque e embarque dos passageiros, pelas 19h45 cruzou os molhes de rumo aos portos de Lisboa, Las Palmas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santos, Montevideu e Buenos Aires. Este paquete correio, que pertencia à Royal Mail Lines, Ltd (Mala Real Inglesa) foi conduzido de entrada pelo piloto José Fernandes Amaro Júnior e de saída pelo seu colega Manuel Pinto da Costa.



O paquete correio HIGHLAND CHIEFTAIN demandando o porto de Leixões em 11/1958 / foto de F, Cabral . Porto /.


O HIGHLAND CHIEFTAIN, 166m/14.131tb, duas chaminés, dois mastros, duas máquinas a óleos pesados, que lhe conferiam uma velocidade de 15 nós, possuía acomodações para passageiros de 1ª classe: 150; 2ª classe: 70 e de 3ª classe: 500. Construído pelo estaleiro Harland & Wolff, Belfast, foi lançado ao mar para a Nelson Line a 21/06/1928 e partiu para a sua primeira viagem a 21/02/1929, quando deixou o porto de Londres com destino ao porto de Buenos Aires, fazendo escala em portos intermédios. Em 1932, tal como os seus irmãos, foi transferido para o seu novo armador Royal Mail Steam Packet Company (Mala Real Inglesa). Em 1939, com o eclodir das hostilidades, foi convertido em transporte de tropas e a 11/10/1940 no porto de Liverpool sofreu vários danos, devido a ter sido atingido por ataque aéreo da “Luftwaffe”.



O paquete correio HIGHLAND CHIEFTAIN com as cores do seu primitivo armador a Nelson Line / imagem de autor desconhecido - photoship Co. UK /.


Terminadas as hostilidades, em 1948, após ter sofrido beneficiações, retomou o serviço comercial de carga e passageiros para o Brasil e Rio da Prata, escalando na sua rota para o sul os portos de Boulogne.Sur-Mer/Cherburgo, Vigo, Leixões e Lisboa e assim continuou até ter sido vendido ao armador Calpe Shipping Co., Gibraltar, em Janeiro de 1959. Registado como CALPEAN STAR passou a ser utilizado como depósito flutuante da indústria baleeira e também como navio transportador congelador de carne de baleia. Em Março de 1960 sofreu grave avaria no fundo do casco ao largo do arquipélago da Geórgia do Sul, tendo sido rebocado para o porto de Montevideu, a fim de sofrer reparações. Depois de reparado, quando se preparava para largar de rumo a Gibraltar encalhou, após o compartimento das caldeiras ter pegado fogo, tendo sido abandonado e lentamente foi-se desintegrando até ao ano de 1965, quando os destroços foram desmantelados para sucata.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior, Royal Mail Lines, Ltd.

(continua)

Rui Amaro